segunda-feira, 19 de março de 2007

essa história que falei aí embaixo sobre o grito primal me faz bem lembrar do período conturbado em que vivi com helena, uma vida levada a extremos por todo o tempo, tornando-se infinitamente mais desgastante do que prazeirosa.
foi a época em que comecei a perceber o movimento da gestalt terapia, do grito primal e do autor que elegi como referência: carl rogers, um terapeuta americano que propunha experimentos absurdos, desconstruindo de forma medíocre os alicerces da psicologia.

ele era o que tinha de pior e foi justo ele que me chamou atenção. foi dele que eu li a maior quantidade de livros e fui a mior número de palestras (de seus seguidores por esse lado dos trópicos). é, no mínimo, risível o tempo que perdi com carl rogers, quanta coisa interessante deixei de fazer, sentado num barzinho onde eu tinha mesa cativa e sorvia vodka com gelo e lia aquela psicologia barata que se dizia contemporânea. daquele tempo, herdei apenas uma pancreatite que quase deu cabo de mim.

não sei se temos que encontrar porquês em todas as coisas, me parece que não, mas vá lá: naquele período eu tratava com um médico psiquiatra (filho e irmão de psiquiatras) em início de carreira que me atendia num lúgubre consultóriozinho dentro de um hospício porque ele ainda não tinha se estabelecido no campo ambulatorial, trabalhando 90% do seu tempo em intermináveis plantões em hospitais psiquiátricos.

esse mesmo médico, de quem me separei há apenas 18 meses, não é inteligente nem brilhante e sua cultura geral é igual a zero. de forma transversa, foi exatamente a sua condição cultural inferior que me empurrou para as livrarias, para o que se falava de novo na américa, na união soviética e na frança. naqueles profissionais eu bebia um possível saber que, ainda que frágil por sua inconsistência teórica e falta de experiência prática comprovada, era alguma coisa de novo, alguma coisa realmente pensada, até mesmo intelectualizada (para os tristes padrões da época).

assim, criei, autodidaticamente, uma 'formação' psicanalítica, que eu contrapunha à incapacidade de argmentação razoável do meu médico. tenho certeza de que, por absoluta ignorância do que eu falava, ele deve ter ouvido de mim exposições e técnicas que devem ter soado como algum tipo de alucinação desconhecida. hoje em dia, olhando em retrospecto, tenho um pouco de pena dele. acho que sou uma pessoa bem mais resolvida do que ele. e sem a sua cooperação!

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