segunda-feira, 16 de abril de 2007

Hoje, depois das reuniões fui bater pernas no centro da cidade. aquele monte de ruelas com multidões de pessoas... parece formigueiro... acabei dando com os costados na Travessa do Ouvidor... vou te contar, fiz a festa. Me endividei até a alma... pra dar uma idéia... devo ter comprado uma meia árvore!

Cor

como já disse, muito interessante a leitura de israel pedrosa e seu estudo das cores.
'Da cor à cor inexistente' é mesmo um livro definitivo. Não creio que haja nada mais a acrescentar sobre o assunto ainda mais sendo escrito por um artista. É belo saber que a cor é o resultado da luz transformada em nosso cérebro. (creio que Goethe já chegara à mesma conclusão)
mas continuo me questionando quanto à cor no computador. a palheta de cores (milhões) que o computador nos oferece é produto de binários. não entendi ainda como falar em pigmentos virtuais. israel pedrosa já disse a um amigo meu que é a mesma coisa, que o princípio é o mesmo, mas alguma coisa me inquieta. não sei bem o que, é difícil descrever minha dúvida. talvez seja uma bobagem, fruto do meu desconhecimento absoluto de Óptica, mas que me faz pensar faz... tenho que procurar um especialista pra me explicar melhor.

domingo, 15 de abril de 2007

Rito de Passagem




imagino que a gente saia de relacionamentos, por mais distanciados que sejam, da mesma maneira em que entra. é uma tolice achar que sair de um relacionamento é um rito de passagem. não é. rito de passagem é outra coisa: é viver. As horas são ritos de passagem. é você olhar uma coisa, uma experiência e conseguir ter uma visão distanciada do conjunto. avaliar o que foi tudo aquilo. reiventar-se é a palavra. reiventar a vida, olhar pra frente, desconsiderando se o tempo será breve (sempre é) e seguir em frente. não ter mágoa. a mágoa corrói. a vida passa. claro que a gente pode se irritar momentaneamente quando constata que, de onde menos espera, vem a tolice jeka, reducionista e ordinária, mas é sentimento de momento, que a gente conversa ou escreve um pouquinho pra se aliviar e pronto. passou. vira-se a página. viver não é um (não eterno) exercício de virar páginas? cada segundo, cada batida do coração pode ser o último. então, rapaz, viva enquanto pode. sem rancores, mágoas. viva enquanto a vida é bela, coloque cada pessoa no escaninho que ela deve estar - os escaninhos não se comunicam internamente - coloque cada situação num altar. olhe, se for de interesse, de vez em quando para esse acervo, mas não perca de vista que é passado. e não se fala do que passou. se eu acordar amanhã, aí sim, terei cumprido um rito de passagem.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Rapinas, matronas e estagiárias


Cara S. "Obrigado pelas linhas do seu e.mail. De verdade, muito reconfortantes. Depois de 3 trocas de e.mail, muito bacana você entender essa história de como uma mulher pode tomar atitudes virulentas e marginais quando não atendidas suas expectativas e necessidades. Você me pergunta se eu não imaginava que isso pudesse acontecer, se eu não tenho nenhuma experiência nesse sentido. Talvez eu não tenha falado nisso aqui, mas tenho sim, já me aconteceu uma única vez, há mais de vinte anos atrás. - Foi uma situação semelhante e não igual a essa de agora. Aqui é diferente: com o motivo torpe de não aceitar que eu não desejasse satisfazer à sua sexualidade doentiamente estranha . Até porque no caso presente, existem outras histórias em paralelo, como uma incapacidade dela, palpável e recorrente de manter relacionamentos mais plenos, sabe-se lá porque motivos. Eu, tenho certeza, jamais saberei. Então, nessas bases, não tinha acontecido não. - Mas o que me aconteceu análogo foi numa situação diferente, quando eu morava com uma mulher que tinha uma formação diversa da de agora, um caráter sabidamente duvidoso. Já naquela época, eu duvidava, mas não tinha certeza se aconteceria algo, enquanto que agora, a surpresa foi total.


A situação final similar que me aconteceu há 20 anos atrás foi quando expliquei à uma certa C. que nosso relacionamento deveria terminar. Ela já sabia, é claro, que eu estava me apaixonando por P., mas não queria aceitar. Eu expliquei, na época, que também estava triste por as coisas acontecerem assim, que era um momento muito doloroso mesmo para nós dois, principalmente para ela, mas o que fazer? depois de mais de um mês de conversas, explicações, discussões, comecei a me dar conta de que nada adiantaria... como não adiantou. finalmente saí da casa onde morava, onde a vida tinha virado um pesadelo e fiquei com P. com sua inteligência, o frescor e a paixão. mas ali eu já sabia que a mulher balzaca adiantada, não aceita essas coisas de forma racional. e sempre trás à tona as distorções do seu caráter.


Eu sempre soube que as mulheres, ao dobrarem determinados cabos da linha do tempo, mudam, tornam-se animais irracionais. Basicamente, imagino que ferida sexualmente, nenhuma mulher à partir dos 35 anos, tenha dignidade para entender (salvo as muitas e honrosas excessões). Eu e a mulher com quem eu vivia trabalhávamos no mesmo emprego. Alguns dias depois de sumida, ela apareceu com algumas marcas roxas pelo corpo e rosto dizendo que eu tinha dado uma surra nela. Aquilo caiu como uma bomba! não se falava em outra coisa. Eu sabia que vinha chumbo e grosso, não imaginava de onde. Já naquela época, no trabalho, por meu próprio ofício além de um temperamento rígido eu era amado por uns e odiado por outros (muito mais odiado que que amado). Expliquei a verdadeira história toda e os que gostavam de mim acreditaram e a maioria não. Essa mancha pairou sobre mim durante anos até que C., convencida do sucesso da sua tática, diante de um novo fracasso de relacionamento, repetiu a farsa e aí sim, a coisa veio toda à tona e ela, desprezada por todos, transferiu-se para outra unidade onde está até hoje.


P., na época de toda essa confusão era estagiária e logo todos concluíram que, como tal, baseada no seu frescor da juventude, usara seus atributos para galgar alguma coisa às minhas custas. Mas, como dizia o estadista Collor de Mello, 'o tempo é senhor da razão', a coisa evoluiu da maneira como era mesmo provável: formada, P. arranjou emprego onde ganhava bem (mais do que eu), nossa união continuou estável, nos casamos legalmente e tivemos uma vida normal, constante, tivemos um filho e por assim foi durante anos. Mas a vida não é perfeita nem estática e outras situações, outros movimentos do destino fizeram com que nos separássemos muitos anos depois.


E aqui um parêntesis para as estagiárias: as mulheres de 40 anos vêem nas estagiárias uma ameaça potencial, acreditando firmemente que elas usarão o frescor de suas peles que ainda não necessitam de tratamentos com cremes, nem mesmo de perfumes para que sejam viçosas, alegres e interessantes, que elas usarão a sua juventude para conquistar homens mais velhos (que seriam velhos babões diante de ninfetas rs). Isso é um pensamento tosco, primário, falso, eivado de maledicência, é puro ódio contido no coração das mulheres que já não têem nada a oferecer. Reconheço que o advento dos estágios, coloca as meninas numa situação nova, numa espécie de RITO DE PASSAGEM e que elas atraem e são atraentes sim. Não acredito que todas sejam putinhas que se aproveitam da elasticidade viva dos seus sexos frescos para conquistarem alguma coisa. Nem que os homens todos sejam tão idiotas, embora a literatura universal reproduzindo a vida, trate de inúmeros casos semelhatentes. E como uma brincadeira séria, nelson rodrigues, num rasgo de ousadia contemporânea, escreveu que "toda mulher deveria ter 14 anos". Da mesma forma que Tom disse: "todo mundo deveria morar em Ipanema". Enfim, é preciso contextualizar... Mas que rola um preconceito, isso rola sim. (Israel Pedrosa diz que o macho encontra a fêmea jovem pelo olhar e Darwin dizia que é pelo cheiro)


Se me perguntassem com quem eu gostaria de me relacionar, por faixas etárias, eu não hesitaria em afirmar que procuro pessoas da minha faixa etária. Não tenho tenhuma tara (rs) por mulheres muito mais velhas nem muito mais novas. Faria apenas a ressalva de que, em qualquer situação, é necessário que a mulher exerça sobre mim a atração necessária. Não havendo essa atração, reafirmo que o sexo é irrelevante para mim. Se me perguntassem ainda se a questão das juventude extrema, das estagiárias no caso contextualizado, atraem eu diria ainda que, em muitos casos sim e em outros tantos não. Se elas têm mais chances? diria que, tecnicamente sim, embora também ache isso irrelevante na maioria dos casos. Em oito relacionamentos com pessoas em ambiente de trabalho, 2 foram com estagiárias muito abaixo na minha idade e seis foram com pessoas que regulavam comigo em idade. Acredito, que estatísticamente, está tudo explicado.


Então, amiga do e.mail, agora que o tempo passou muito e caminho a passos largos para uma idade mais provecta, insisto em repetir que a coisa que hoje mais me seduz é a paz. Tenho o olhar atraído pela estagiária que me cativa diariamente? Sim, tenho. Mas o que eu desejo é outra coisa, é a perspectiva da tranqüilidade, da paz. Do carinho da mulher amada, seja ela da idade que for! E, como disse, ainda me surpreendo ligeiramente ao assistir a crises, rompantes, quando mulheres deixam de lado uma certa educação básica, 'de berço' e uma formação porsterior mais acadêmica ou intelectual e rolam da lama de um mundanismo verborrágico equivalente à de pessoas que, insisto, por esse ou aquele motivo são desprovidas de caráter, que no fim das contas, para mim é o atributo maior.

beijos G

quinta-feira, 5 de abril de 2007

eu e as moscas

'nova postagem' é como papel em branco, como patrão te olhando porque você não escreveu, é falta grave, é não participar do coitinho almejado. é, sem querer, ferir a matrona. é a lama! essa página de 'nova postagem' me assusta mais do que estimula. porque me estimular é uma coisa diferente. me estimular é uma coisa mágica que algumas pessoas como C. fazem. não creio que seja exatamente culpa minha... muito menos dela. nem de ninguém. mas não é assim que funciona... na falta de alguém mais específico, a tendência é me responsabilizarem. ou melhor, não a mim, mas à bola da vez... o que a gente tem que fazer é sair da linha de tiro.

porque viver (quando a gente se expõe), é isso: estar, como patinhos, num parque de diversões... rodando de um lado para o outro e esperando chumbo. não sei. eu estou sempre esperando chumbo - embora ainda me surpreenda por o chumbo vir de um lado que eu não esperava! - mas não importa, é levar chumbo da mesma maneira! o chumbo, é bom que se conte, não derruba, ele incomoda como o pouso de uma mosca varejeira. você demora um pouco pra esquecer um inseto verde!

dizem os doutores que a mosca vive 24 horas. fico imaginando o percentual de tempo em que elas sentem prazer por incomodar. deve ser por um bom tempo, porque ao contrário dos humanos que não despertam nada, as moscas, se não sentirem e proporcionarem prazer se extingüiriam.... é isso? acho que não, acho que estou misturando o raciocínio (que, definitivamente, não é o meu forte rs). não deve ser nada disso. o que eu acho é o seguinte: eu estou procurando coisas onde ela não existem, eu estou descarregando minhas frustrações terríveis no éter do virtual (de onde não decolo). eu sou um doente, um doido varrido. porque voam muito, certas estão as moscas verdes e grandes.

domingo, 1 de abril de 2007

ler os jornais de domingo é uma tarefa hercúlea (saudades de hercule poirot - dei minha coleção pro Tadeu). tem coisa demais, a maioria rigorosamente desnecessária, mas que, por paranóia, me sinto na obrigação de ler. o jornal dos domingos é o mais desatualizado da semana (é impresso na tarde de sábado). serve pra ler os colunistas mais famosinhos ( e morro de inveja deles, é claro).
estou escrevendo tudo isso de mentira. penso, na verdade, na incompletude das relações humanas. elas me incomodam. toda a minha história de relacionamentos sempre esbarrou com a encruzilhada da hora H, a hora em que me mostro. porque é assim, eu acho que alguns modos meus podem, eventualmente, serem sedutores. da mesma forma que em todo mundo. as pessoas vêm me seduzindo ao longo de todos esses anos. normal. acho que não existe de outra maneira. acho que todo mundo seduz e é seduzido, seja de que maneira for, o tempo todo. nem que seja por um púcaro búlguro. e entendo ainda que a bulgária não exista. ao meu modo enviezado, eu tento compreender tudo. o que, parece que definitivamente, não entendo, são as relações humanas.

tem uma história engraçada que é mais ou menos assim: eu sempre acreditei muito que as pessoas deveriam viver casadas, deveriam dividir suas vidas com as outras. continuo acreditando, com mais de meio século de idade e uma coleção de casamentos fracassados. sempre entendi que uma certa paixão física, um certo vigor próprio do início, seriam ao longo do tempo diluídos, mas que outras coisas viriam ocupar aquele espaço. imagino ainda que seja quase impossível que os casais, em algum momento dos seus relacionamentos, não tivessem outras experiências fora do casamento pela obviedade da sedução (infinita) que outros atores poderiam trazer à uma vida naturalmente cotidiana. acredito que faça parte do script/vida. mas que não muda a parceria. e, ao final dos relacionamentos, reconhecendo todo o meu fracasso, a minha parcela de culpa pelo fim, sempre concluí que, mais do que as 'culpas' dos dois, existia um fator à mais na história: eu não encontrava pessoas que tivessem uma determinada maturidade intelectual que me é imprescindível. (bom acrescentar que estou muito longe da erudição, minha expectativa nessa área sempre foi mediana, como eu próprio).

como, autodidaticamente, elegi sartre como meu formador intelectual, não me furtei a procurar entender seu relacionamento com simone (afinal, eram dois intelectuais) e o que percebi foi que ali também a coisa não deu certo. fizeram apenas uma experiência mais ou menos revolucionária externamente, mas sem agregar conteúdo de vida à suas existências. ou seja: ainda que eu nunca tenha sido um intelectual, entendi que não necessariamente, a união de intelectuais era a solução da proposta. o que é, então? não sei. observei exemplos outros de relações tranqüilas e duradouras no outro extremo: quando um estava na outra ponta da proposta intelectual do outro. um erudito com uma semi-analfabeta, por exemplo. ou seja: não tem regra.
busquei então, não em jorge amado e zélia gatai (que deram certo), mas em josué montello, que me acolheu pessoalmente, a busca do entendimento. passei inúmeras noites no escritório da casa de josué conversando, falando do meu anseio e buscando a resposta segura no mestre. conheci toda a sua obra e privei da intimidade do casal. mas em nosas conversas particulares ele não tinha a resposta pronta. falou de aceitação, de erudição, de modéstia, de religiosidade, de árduo trabalho e nem sei mais quantas coisas. eu ficava ali, ouvindo atentamente. mas ele, após longa doença, veio a falecer sem conseguir me fazer entender quais os caminhos a serem perseguidos.

sem esse professor presencial, resolvi continuar, sololitário, a busca numa análise sistemática de mim mesmo e do outro, em tentar estudar os relacionamentos que a recém nascida internet propiciava ou que a literatura, espelho da vida ou vice e versa, contava e recontava através de clássicos muitas vezes milenares ou numa ficção ágil e contenporânea.

e, pelas experiências acumuladas em mais de trinta anos de vida ativa, entro no limiar da vida provecta, passados 52 anos, sem uma resposta coerente. o que posso entender então é que não existem fórmulas nem mesmo na tentiva de unir elementos onde as condições sejam mais próximas (como um certo namoro com pessoas de idade e intelectualidade adequadas). nada garante nada. fico me perguntando se, por esse desencontro no tempo certo, borges, roberto marinho e niemeyer, por exemplo, casaram-se em idades tão avançadas. pode não ter nada a ver com o que imagino, pode ser fruto das suas senilidades. não saberei jamais. e, por não saber, e estar vivo, me resta apenas o futuro com as experiências que me proporcionará (que pode perfeitamente, não ser nenhuma).