domingo, 1 de abril de 2007

ler os jornais de domingo é uma tarefa hercúlea (saudades de hercule poirot - dei minha coleção pro Tadeu). tem coisa demais, a maioria rigorosamente desnecessária, mas que, por paranóia, me sinto na obrigação de ler. o jornal dos domingos é o mais desatualizado da semana (é impresso na tarde de sábado). serve pra ler os colunistas mais famosinhos ( e morro de inveja deles, é claro).
estou escrevendo tudo isso de mentira. penso, na verdade, na incompletude das relações humanas. elas me incomodam. toda a minha história de relacionamentos sempre esbarrou com a encruzilhada da hora H, a hora em que me mostro. porque é assim, eu acho que alguns modos meus podem, eventualmente, serem sedutores. da mesma forma que em todo mundo. as pessoas vêm me seduzindo ao longo de todos esses anos. normal. acho que não existe de outra maneira. acho que todo mundo seduz e é seduzido, seja de que maneira for, o tempo todo. nem que seja por um púcaro búlguro. e entendo ainda que a bulgária não exista. ao meu modo enviezado, eu tento compreender tudo. o que, parece que definitivamente, não entendo, são as relações humanas.

tem uma história engraçada que é mais ou menos assim: eu sempre acreditei muito que as pessoas deveriam viver casadas, deveriam dividir suas vidas com as outras. continuo acreditando, com mais de meio século de idade e uma coleção de casamentos fracassados. sempre entendi que uma certa paixão física, um certo vigor próprio do início, seriam ao longo do tempo diluídos, mas que outras coisas viriam ocupar aquele espaço. imagino ainda que seja quase impossível que os casais, em algum momento dos seus relacionamentos, não tivessem outras experiências fora do casamento pela obviedade da sedução (infinita) que outros atores poderiam trazer à uma vida naturalmente cotidiana. acredito que faça parte do script/vida. mas que não muda a parceria. e, ao final dos relacionamentos, reconhecendo todo o meu fracasso, a minha parcela de culpa pelo fim, sempre concluí que, mais do que as 'culpas' dos dois, existia um fator à mais na história: eu não encontrava pessoas que tivessem uma determinada maturidade intelectual que me é imprescindível. (bom acrescentar que estou muito longe da erudição, minha expectativa nessa área sempre foi mediana, como eu próprio).

como, autodidaticamente, elegi sartre como meu formador intelectual, não me furtei a procurar entender seu relacionamento com simone (afinal, eram dois intelectuais) e o que percebi foi que ali também a coisa não deu certo. fizeram apenas uma experiência mais ou menos revolucionária externamente, mas sem agregar conteúdo de vida à suas existências. ou seja: ainda que eu nunca tenha sido um intelectual, entendi que não necessariamente, a união de intelectuais era a solução da proposta. o que é, então? não sei. observei exemplos outros de relações tranqüilas e duradouras no outro extremo: quando um estava na outra ponta da proposta intelectual do outro. um erudito com uma semi-analfabeta, por exemplo. ou seja: não tem regra.
busquei então, não em jorge amado e zélia gatai (que deram certo), mas em josué montello, que me acolheu pessoalmente, a busca do entendimento. passei inúmeras noites no escritório da casa de josué conversando, falando do meu anseio e buscando a resposta segura no mestre. conheci toda a sua obra e privei da intimidade do casal. mas em nosas conversas particulares ele não tinha a resposta pronta. falou de aceitação, de erudição, de modéstia, de religiosidade, de árduo trabalho e nem sei mais quantas coisas. eu ficava ali, ouvindo atentamente. mas ele, após longa doença, veio a falecer sem conseguir me fazer entender quais os caminhos a serem perseguidos.

sem esse professor presencial, resolvi continuar, sololitário, a busca numa análise sistemática de mim mesmo e do outro, em tentar estudar os relacionamentos que a recém nascida internet propiciava ou que a literatura, espelho da vida ou vice e versa, contava e recontava através de clássicos muitas vezes milenares ou numa ficção ágil e contenporânea.

e, pelas experiências acumuladas em mais de trinta anos de vida ativa, entro no limiar da vida provecta, passados 52 anos, sem uma resposta coerente. o que posso entender então é que não existem fórmulas nem mesmo na tentiva de unir elementos onde as condições sejam mais próximas (como um certo namoro com pessoas de idade e intelectualidade adequadas). nada garante nada. fico me perguntando se, por esse desencontro no tempo certo, borges, roberto marinho e niemeyer, por exemplo, casaram-se em idades tão avançadas. pode não ter nada a ver com o que imagino, pode ser fruto das suas senilidades. não saberei jamais. e, por não saber, e estar vivo, me resta apenas o futuro com as experiências que me proporcionará (que pode perfeitamente, não ser nenhuma).

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