sábado, 17 de março de 2007

meu sono continua agitado como o de um guerrilheiro que descansa sob uma jaboticabeira... com o tempo, meu organismo aprendeu a estar atento, com o sono extremamente leve, ainda que induzido por pesados soníferos. qualquer coisa é capaz de me despertar. isso é bom e ruim.

acho que é melhor do que pior. afinal, qual a necessidade de ter um sono muito pesado? não vejo. por outro lado, fico imaginando se não estou alerta demais todo o tempo, gerando um descanso menos completo?... mas descansar de quê? isso: do quê exatamente descansamos? das horas em vigília? de uma leitura? de um dia de trabalho?

ora, essas são as coisas da vida, todas as vidas, de uma forma ou de outra, são mais ou menos compostas das mesmas coisas, necessidades, anseios, buscas, fé, expectativa pelo amanhã inalcansável. principalmente por esse último: o amanhã... o amanhã me parece o maior engodo que nos aplicamos através dos tempos. sempre amanhã. e, ao acordarmos, o amanhã sumiu, passou pra frente, ele é hoje e hoje não tem nada a ver com o amanhã.

assim vamos, dia após dia, ano após ano, na expectativa do amanhã. expectativa que se esvai como areia fina entre os dedos no espaço de 24 horas, transformando-se em hoje. essa ilusão a que nos propomos, nem chamada de ilusão pode. é um nada, um vazio da alma que insiste em não perceber. devíamos antes, dar muito mais valor à enorme quantidade de ontens que temos guardados. o ontem sim, é um momento bacana. não importa se proveitoso ou não, mas ele está ali, firme, pleno: é um ontem e ninguém altera seu significado.

agora... amanhã.... francamente. dá até uma certa agonia esse mentir diário aos outros e, principalmente, a nós mesmos. mais: o amanhã não existe na prática, porque um dia o amanhã será a morte onde, aí sim perderemos tudo, inclusive nossa imensa coleção de ontens. esperar pelo amanhã é o exercício último, desesperado de brincar de roleta russa. doença infantil como o sarampo no adulto ou o sonho impossível, sonho sonhado em vigília, daqueles que sonhamos já certos de que, por impossíveis, não acontecerão.

Nenhum comentário: